09/12/2009

Um Bocadinho da Nossa História: Como Eu, um dia aprendi o que era um "Bufo".

“...Medina Carreira considerou, na terça-feira à noite, numa tertúlia no Casino da Figueira da Foz, o Programa Novas Oportunidades como uma «trafulhice» e uma «aldrabice» e a educação em Portugal como uma «miséria».
O antigo ministro das Finanças entende ainda que as escolas produzem «analfabetos» e que os alunos que participam no programa Novas Oportunidades «fazem um papel, entregam ao professor e vão-se embora».
«E ao fim do ano, entregam-lhe um papel a dizer que têm o nono ano. Isto é tudo uma mentira, enquanto formos governados por mentirosos e incompetentes este país não tem solução», acrescentou.
Sobre os alunos, Medina Carreira entende que estes «não sabem coisa nenhuma». «O que é que vai fazer com esta cambada, de 14, 16, 20 anos que anda aí à solta? Nada, nenhum patrão capaz vai querer esta tropa fandanga», sublinhou.
Já no que toca à avaliação dos professores, o ex-ministro considerou-a uma «burrice», pois perguntou «se você não avalia os alunos, como vai avaliar os professores?»....”


in TSF online

Aproveito a opinião do professor Medina Carreira sobre o ensino em Portugal, com a qual concordo em absoluto e que acima transcrevo, para dar início ao meu post, hoje procurando mostrar aspectos da escola em Messines (e não só) no Portugal do pré 25 de Abril.
Desde já digo que só conheci duas professoras durante o meu percurso na escola primária (agora chamado ensino básico), depois conheci muitos outros e outras, uns naturalmente mais louváveis do que outros, o que é perfeitamente natural. Mas dizia eu, as minhas duas professoras da primária foram a Dª Alice e a Dª Natália, ambas respeitáveis senhoras de Messines, a segunda por ser aquela com quem mais tempo passei, ainda hoje procuro falar um pouco sempre que a encontro.
A Dª Alice foi a minha professora do período anterior ao 25 de Abril (o que no meu caso correspondeu à então chamada primeira classe) e carregava consigo todas as práticas pedagógicas em vigor no antigo regime. O mesmo é dizer que todas as suas prelecções e ensinamentos eram invariavelmente acompanhados, sempre que necessário, por uns puxões de orelhas e umas reguadas a preceito, distribuídas por todos quanto fizessem barulho, não soubessem a tabuada, dessem erros ortográficos, ou simplesmente estivessem no sítio errado à hora errada.
Recordo por exemplo que uma das técnicas que a Dª Alice utilizava para manter a classe em respeito, isto quando por qualquer motivo se ausentava da sala por um período razoável de tempo, era o nomear um dos alunos para que tomasse nota no quadro, do nome dos que fizessem barulho ou se remexessem demasiado nas carteiras (era assim que se chamavam as mesas de trabalho).
Escusado será dizer que o poder do aluno apontador subia de um momento para o outro a um nível difícil de quantificar. O dito aluno apontador, na maior parte do tempo um entre nós, e tal como os restantes sujeito aos humores da Dª Alice, encontrava-se de repente numa posição invejável. Não só o seu nome nunca, jamais, seria anotado no quadro, como o seu poder para levar qualquer outro a levar umas reguadas quando a DªAlice voltasse era absoluto e discricionário.
Vejam lá se conseguem descobrir um melhor método de explicar a um aluno do 1º ano o que é um “Bufo”.
Esta figura do Bufo era bastante querida no antigo regime. Há até quem diga que havia alguns exemplares desta espécie em Messines e que não hesitaram em usar os seus préstimos para enviar alguns à palmatória. Mas isto, eu não sei, se será verdade. Agora já não tenho dúvidas que o método de ensino então em vigor era de facto eficaz neste aspecto. Já o mesmo não digo relativamente ao acesso que o mesmo sistema proporcionava a níveis superiores de ensino. Embora não consiga encontrar a fotografia de grupo que me lembro ter tirado na altura com todos os colegas da primeira classe, recordo-me que dos vinte e tal que formavam o grupo, sómente três ou quatro, senão menos, prosseguiram os estudos a nível superior, um resultado tão fraco que impressiona, mas serve perfeitamente para mostrar o que era o Portugal de há trinta e cinco anos atrás.

Já agora, se houver por aí alguém que tenha a fotografia que referi acima e a possa dispensar por um tempinho, curto, para que eu possa mandar fazer uma cópia, ficaria eternamente grato.

4 comments:

  1. Meu caro,
    Na minha primaria tambem utizivam o mesmo metodo.
    Mas acho que não era Bufo (não me recordo bem) era sim "gracha" ou qualquer nome do género.
    Mas, ai daquele que apontasse qualquer nome: levava uma camada de porrada dos outros.
    Foram varias as reguas que enterramos. Havia um grande espirito de grupo entre alunos, naquele tempo, nas minas do Lousal.

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  2. Caro bichoDEmato,

    Antes de mais obrigado pelo seu comentário, o meu amigo vem do Boronha não é?

    Pois no meu tempo a solidariedade não era assim tanta.
    O termo "Bufo" utilizei-o mais .
    para comparar com os delatores que a PIDE utilizava no antigo regime. na escola também não era esse o nome que lhes chamavamos.

    Vejo que o meu caro amigo andava pelas minas do lousal, fruto talvez dos seu pai estar ligado à actividade mineira. Viveu o 25 de Abril por aí? Se sim deve ter historias engraçadas da altura.

    1 ab

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  3. Tambem fui da classe da D Alice durante a 1ª e a 2ª classe. Ainda hoje quando a encontro tenho alguma dificuldade em ser cortez com a senhora. Não levei reguadas ( o 25 de Abril já tinha acabado com as réguas ) mas ainda havia bofetadas e puxões de orelhas e muito muito medo. Sim que respeito não era o que sentíamos por ela. Gritava ela no 1º andar e a D Ana no rés- do-chão. Com 7 anos aquilo parecia o inferno. Milagrosamente acho que numa sala de 25 ou 30 putos nenhm ficou traumatizado e os nossos pais até achavam a coisa normal. Não sei se foi assim tão mau, à conta das bofetadas ainda hoje sei a tabuada...

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  4. Caro Anónimo,

    o método m termos de aprendizagem era eficaz. Disso não há dúvida, o medo até mexer as pedras.

    cumprimentos

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