23/11/2009

Um Bocadinho da Nossa História: PREC-Álvaro Cunhal em Messines

Desde já aviso que o que a seguir vou narrar é baseado apenas e só nas memórias do que presenciei (tinha na altura 9 ou 10 anos). Como tal, qualquer facto menos correcto ou impreciso fica desde já justificado e, se for esse o caso, agradeço as possíveis correcções.

Penso ter sido um domingo o dia escolhido para o comício. A festa foi organizada e teve o seu início no largo em frente do então chamado “Café do Romeu”, o mesmo que já foi o café do Piaska, próximo do então BNU. Era este à altura o local de eleição na vila.

Álvaro Cunhal subiu ao 1º andar do café, de onde pretendia discursar, tal como veio a acontecer, às hostes vermelhas. Junto com a população local, a ouvir o dirigente máximo do PCP, encontrava-se também, devidamente dissimulada, a guarda pretoriana do partido, este “corpo de intervenção rápida”, composto por uns rapazes altos e espadaúdos, vinha armado por uns nada meigos barrotes de madeira e preparados para o que desse e viesse.

O comício até começou bem, só a partir de determinada altura, quando deram entrada na festa alguns elementos não convidados a coisa deu para o torto.

A chefiar este pequeno grupo de intrépidos messinenses, vinha, penso eu, o Manaca, tão só o maior activista messinense do MRPP (sobre ele existem bastantes mais histórias que dariam bons posts) e a segui-lo viriam ainda o Idalécio, irmão do Ilídio e outros que, confesso, não recordo.

A acção vinha bem planeada, perturbar e acabar com o comício era o objectivo máximo. E se bem o planearam, melhor ainda o executaram, assim que Álvaro Cunhal começou a discursar toca de largar "palavras de ordem" acompanhados de insultos aos comunas vermelhos a soldo do patrão soviético.

A refrega foi rápida. Iniciou-se com uns murros a preceito, acompanhados de umas boas pazadas aplicadas pela força forasteira. O grémio messinense foi também lesto a responder, rápido e seguro, aplicou um sprint de fazer inveja a qualquer corredor dos 100 metros barreiras e, correndo à frente do corpo expedicionário vermelho, procurou refúgio na sede da sociedade de instrução e recreio messinense. Aqui chegados, alguém corajosamente colocou-se à porta dizendo “Aqui ninguém entra”. A estratégia no entanto não teve o resultado esperado e, dizia-se na altura, a resposta a esta “pega de caras” foi tão só uma patada aplicada na peitaça do forcado.

O refúgio final da força messinense teve que ser deslocado mais para baixo na vila. Penso que foram acabar próximo da escola primária, onde puderam então lamber as feridas e recuperar a moral.

Este é um dos episódios que recordo com mais carinho da minha vivência no PREC, ainda hoje me lembro de, com a rua da Dª Adelaide, como então se chamava, cheia de malta, uns a fugir e outros a distribuir ameixas, eu ter passeado incólume, apreciando completamente embevecido, a História a acontecer.

Escusado será dizer que o meu respeito pelo Manaca, principalmente por este, nasceu ao longo desses dias com este e outros episódios, (a célebre distribuição do jornal do partido, por ele realizada em frente ao mesmo café, é um deles) e ainda hoje dura. Embora tenha a certeza que nem ele o sabe. Não é fácil demonstrar tamanha generosidade e coragem sem ser completamente doido. Louco como só os verdadeiros e genuínos o podem ser.

6 comments:

  1. Não sei quem tu és... Talvez sejas alguém!
    Com o tempo saberei quem és!

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  2. Não tema caro anónimo. Por certo alguém serei.

    um abraço

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  3. Desafio:

    Quem foi o Forcado que tentou, sem glória, fazer a pega de caras?

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  4. Um comentário correcto no global, mas incorrecto nos pormenores.
    A forma como está escrito dá a ideia que era um "chalange" Álvaro Cunhal x Messinenses.
    Não foi nada disso que aconteceu porque quem chegou a vias de facto com o grupo do MRPP foram, também eles na sua maioria, Messinenses (lembro-me bastante bem).
    Quanto aos barrotes de madeira, surgiram depois de se iniciarem as escaramuças. Provavelmente já estavam "preparados", mas se nos reportarmos à época dos factos, até uma simples colagem de cartazes era feita com a companhia dos tais "barrotes".
    Conto-vos uma passagem do tal grupo do MRPP: após o 25 de Abril foram escritas na parede da residência do Francisco Vargas Mogo várias "palavras de ordem" que conotavam o Francisco Vargas com o antigo regime.
    Este fez, então, uma jura que não entraria mais no "café dos caracóis", mesmo em frente à sua residência, na altura frequentado por militantes e simpatizantes do PCP, julgando que os autores das "pinturas" seriam do PC.
    Mais tarde veio-se a descobrir que os autores da proeza eram do MRPP (o António José "Manaca" deve-se lembrar bem do episódio).
    Aqui surge a coerência do Francisco Vargas que, sabendo que tinha errado no “julgamento” que fez, nunca mais entrou no referido café, mesmo sendo cliente diário do mesmo. Como é que ele fazia? Simples, sentava-se na esplanada, fazia o seu pedido, bebia a sua imperial e comia o seu pires de caracóis e pagava, mas sempre na esplanada. Nunca mais entrou no café.

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  5. Se eu tivesse o tempo que tu tens...talvez aqui passasse mais tempo!

    Sobrando-me o tempo que tu não tens, falta-me, a mim o tempo!

    O tempo tudo trás...O tempo tudo leva!

    É como dizer: Atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir!

    Quando quizeres saber quem foi o autor, põe o teu nome por baixo, por que destas não tenho eu falta!

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  6. Caro Anónimo com falta de tempo.

    Entendo que não tendo falta, as tem de sobra. assim sendo, mande mais, não as guarde.

    Por aqui são apreciadas.

    cumprimentos

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