05/11/2012

Refundação


O que é a refundação?

Tive a oportunidade de aqui há um ano, mais ou menos, participar num evento organizado pela Royal Society. Para resumir, porque tal facto não interessa absolutamente nada, pretendeu-se reunir vários investigadores num antigo palacete, agora recuperado. Para que durante dois dias pudessem discutir assuntos da especialidade. Serve isto para colocar em contexto a interessante conversa que tive ao jantar com um professor americano.

Dizia-me ele que a sua filha sofre de uma doença degenerativa e, lamentava-se, como o sistema de saúde nos estados unidos é baseado em seguradoras, leia-se o utente paga o tratamento por inteiro usando um seguro que fez enquanto era saudável, nenhuma seguradora queria fazer o seguro da filha, tendo ele de suportar os custos elevados por inteiro. A razão é simples, com a doença já declarada o seguro da filha deixou de ser um negócio lucrativo e, como é fácil de antever,  à seguradora só vai dar é prejuízo.

Ao ouvir isto, perguntei de pronto. Mas se isso é assim, então o que fazem aqueles que nascem pobres e doentes, ou que sendo pobres nasça um filho doente, como podem eles fazer face aos tratamentos necessários? A resposta foi simples. Pois é, não podem. Nesse caso terão de usar os hospitais onde são tratados os infelizes que não podem pagar, onde o tipo de tratamento é prestado em condições menores, presumo serem aqueles hospitais que vemos no “emergency” na TV. Nestes, por exemplo uma droga mais eficaz poderá não ser disponibilizada, porque é simplesmente mais cara que uma outra menos eficaz.

Pois bem, refundir os Portugueses e o Estado é passar os grandes negócios das áreas da saúde, educação e segurança social para as mãos de privados. É exactamente isto o que está em causa. Passos faz parte da nova ideologia que recomenda baixar os custos do trabalho, baixar os custos do estado social, para que nos tornemos mais competitivos. Repare-se que baixam as despesas sociais, com a saúde, com a educação e prestações sociais, mas os impostos continuam a aumentar. Este dinheiro continua a ser necessário para assegurar as mordomias do estado gordo, que não se querem cortar.
Em breve, passaremos a andar como os americanos, onde existem os hospitais para os pobres, pretos e hispânicos e os hospitais bem equipados, pagos a cartão de crédito para os outros. E aí, quando os portugueses tiverem que pagar bem pago o tratamento de um filho, ou quando virem uma qualquer seguradora recusar-se fazer um seguro de um seu filho, por este sofrer de uma doença degenerativa qualquer. Os Portugueses, dizia eu, aí quando tiverem que pagar tudo do bolso ou então irem resignados para um hospital onde serão tratados com o que há e, não haverá muito, aí sim, perceberão então o significado da palavra "refundação".

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