Já aqui vos confessei que com a Dª Alice poderia ser perigoso estar no lugar errado à hora errada. Vem isto a propósito de ter agora recordado um certo dia, no começo do outono, em que ao encontrar-me com outros colegas de escola à volta de uma poça de água, escolhemos a brincadeira óbvia, lançar pedras lá para dentro. Não é grande coisa, eu sei, mas não esqueçam que na altura eram todos miúdos com 6 ou 7 anos de idade.
Quem não apreciou tal coisa foi a Dª Alice, que assim que regressámos à sala de aula nos mandou perfilar no estrado em frente ao quadro, não todos, apenas e só aqueles que tinham participado na história da poça de água, o objectivo, como já devem ter adivinhado, era o de aplicar uma valente reguada como punição pelas pedras lançadas.
Eu estava relativamente descansado, sempre fui um tipo bem comportado, e sabia que não tinha lançado qualquer pedra, bom talvez tivesse, mas com certeza que foi uma pequenita. O certo é que já estavam quase todos os implicados no estrado e o espectáculo ia começar. Foi então que um deles, não satisfeito com a sorte que lhe calhara, apontou para mim e disse, “Aquele ali também mandou”. Eu surpreendido por tamanha desfaçatez e com a Dª Alice de olhos postos em mim, argumentei: “Não mandei não!”, só que o outro, o delator de serviço, insistiu na afronta, e aí eu de forma errada já retorqui, “Ele também mandou” e apontei para o mafarrico.
Claro que a Dª Alice não se ficou, e disse, “pois mas ele já lá está”.
Já adivinharam o que se passou a seguir, também eu subi ao estrado e preparei-me para a punição, injusta diga-se, mas que utilizei para não mais esquecer o quão importante é a arte da dialéctica.
Tive 2 anos de escola com a D Alice. Depois na 3ª tive a sorte de passar para a turma da D Adelaide. Não sei se se lembram dela, mas quem tem hoje 40 anos como eu e teve a sorte de a ter como professora ( especialmente depois da experiência com a D Alice ) a deve recordar com carinho. Era uma senhora solteira que tinha vivido em África e que voltou para cá depois da descolonização. Sabia canções e jogos que aqui nunca tínhamos ouvido, ensaiava peças de teatro, puxava às vezes as orelhas, mas era um doce. Morreu já há alguns anos. No funeral dela estavam meia dúzia de gatos pingados. Fiquei triste, dedicou a sua vida aos filhos dos outros e no fim esqueceram-se dela...
ReplyDeleteO meu caro anónimo teve mais azar do que Eu.
ReplyDeleteA mim só me calhou um ano, depois disso passei para a Dª Natália.
Da Dª Adelaide não me recordo, não deve ter sido do meu tempo.
cumprimentos