Se a Dª Alice foi a professora do pré-25 de Abril, a Dª Natália foi a que fez a transição do antigo regime para os novos tempos e, continuou até eu sair da escola primária. Não me recordo de ver esta senhora bater em algum de nós, talvez o tenha feito e seja eu apenas que não me recordo. Guardo dela uma óptima imagem.
As mudanças na escola foram radicais. Em primeiro lugar as classes passaram a ser mistas, é isso mesmo, os mais novos talvez não saibam, mas antes do 25 de Abril não tínhamos cá misturas, havia salas para rapazes e salas para raparigas, tudo bem separado para não haver confusões e, até no recreio, nos tempos livres entre as aulas, estávamos separados.
O ensino antes rígido e bastante formal passou a obedecer a uma nova dinâmica. Foi colocada uma mesa central na sala e passámos a ser encorajados a levantarmo-nos para irmos buscar o material que fosse necessário. Penso que o objectivo seria o de estimular a independência de cada um, mas continuava a existir, vindo da influência do antigo regime, um enorme respeito pelas professoras (pelo menos ao nível da escola primária). Sou da opinião que esse respeito e disciplina têm claramente de existir se queremos chegar a algum lado no ensino.
Nos outros níveis de ensino, o período do PREC foi muito mais conturbado, foi o tempo das RGAs (Reunião Geral de Alunos), o tempo do saneamento dos professores, o tempo em que alunos passaram a professores quase de um dia para o outro etc. (haverá neste período, estou certo, bastantes histórias engraçadas para contar). Enfim foi o tempo em que se destruiu quase tudo o que o antigo sistema tinha construído, quer aquilo que tinha de mau, e era muito, quer o que tinha de bom, como por exemplo um ensino profissional de muito boa qualidade. Ainda hoje, passados 35 anos, penso não termos recuperado de tal devaneio.
Para terminar deixem que recorde apenas mais este episódio engraçado. Levados pelo que se ouvia dizer aos irmãos mais velhos, (os estudantes em Silves faziam greves quase diariamente), também nós um dia delineamos a nossa greve na escola primária. Penso que o movimento foi liderado pelo Fialho, o mais novo e que já não vejo há bastante tempo, lembro-me até de ter achado aquilo um pouco ridículo, mas naquela altura a questão do ridículo claramente não se colocava.
A dita greve começou pela manhã, deveríamos ter entrado nas aulas às 9 em ponto e passados cerca de 15 minutos (penso eu) ainda brincávamos alegremente no recreio, situado na parte de trás da escola. Estávamos finalmente, também nós, em greve e gritávamos: Greve, Greve! Foi nesse momento que a porta de trás se abriu, apareceram as professoras e disseram “meninos, para dentro!”. A nossa greve tinha terminado. Fora breve, mas participada.
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