Passado o período "delico-doce" da escola primária, cheguei ao ciclo, era assim que se chamava o 1º e 2º ano, hoje conhecidos como o 5º e 6º ano. Foi quase unânime, a opinião entre os nossos pais, de usar para este ciclo lectivo, os serviços do Externato João de Deus em Messines.
Localizado junto ao café dos caracóis ou, como então era conhecido, café do João Sacramento, no prédio onde ainda hoje se encontra a sapataria da mãe dos manos Estevens, tinha como ginásio, o armazém onde até há pouco tempo foi uma loja de sementes e, as salas de aula estavam localizadas nas traseiras desse mesmo prédio.
O Externato era frequentado por jovens de todas as localidades vizinhas, Messines-de-Baixo, São Marcos, Benafim, Paderne e se não estou em erro, penso até que havia pessoas de Salir. Trazia bastante vida e actividade económica a Messines. Se tiverem dúvidas quanto a isto, lembrem-se das sandes de Atum com cebola que o Sr. João insistia em servir à malta que vinha de São Marcos e arredores, o odor a “cebolum” que perdurava duarante toda a tarde era de tal ordem que facilmente se podia identificar quem lá tinha almoçado.
No Externato conheci como professores, entre outros, o Chico Mateus (cujo pai era o director e dono do Externato) e a sua esposa, professores de Matemática e Francês respectivamente. Devo dizer que parte do Francês que ainda hoje sei deve-se a esta senhora. Delineava bastante bem as suas aulas e obrigava-nos a decorar até à exaustão os verbos e estruturas gramaticais. O mesmo (espero que ele não me leve a mal) já não posso dizer das aulas de matemática dadas pelo Chico Mateus, cujo facto mais saliente de que me lembro foi o de ter-me aplicado duas bofetadas, quando na entrega de dois testes corrigidos e que tinha mandado fazer consecutivamente, verificou que no primeiro eu tinha tido negativa e no segundo uma positiva bastante elevada, algo que muito o deve ter irritado, embora eu não perceba o porquê. Ainda hoje imagino o que teria acontecido se tenho tido positiva no primeiro e negativa no segundo, ou negativa em ambos, ou ainda, “vade retro”, positiva em ambos. As combinações são tantas que até fico com dor de cabeça só de pensar nisto.
No Externato o leque de amigos alargou-se bastante, lembro entre muitos outros o Rui Miguel de Benafim, que pelo que me disseram há algum tempo atrás, faleceu enquanto aguardava por um transplante de coração. Uma merda.
Recordo também o “Manel”, penso que vinha de São Marcos, era um tipo alto e forte, muito mais alto do que qualquer um de nós e por vezes aplicava-nos uns “calduços”. O Manel tinha uma fixação em factos relacionados com o sexo e, em particular, com as actividades que se poderiam vir a desenvolver com as representantes do sexo oposto. Serve esta introdução para vos colocar no contexto do episódio seguinte: No final do 2º ano tivemos todos de ir a Silves fazer exame, (o Externato era um estabelecimento de ensino privado e não deveria ter alvará para os fazer), entre os vários exames, tivemos naturalmente que realizar a oral de Francês, que o Manel invariavelmente também fez, claro. Questionado em francês sobre o que mais gostava, o Manel respondeu "les films”, ao que a professora examinadora, retorquiu, “Oui, oui, mais quel genre de films” e o Manel respondeu, orgulhosamente, “les pornographiques”.
Fruto do tempo que então se vivia, a vida no Externato acabou por degenerar na anarquia quase absoluta, embora não guarde os motivos pelos quais o desfecho se deu, lembro que o final foi particularmente doloroso, professores a serem insultados e corridos à pedrada, greves às aulas, chamada da GNR, de tudo se viu. Se houver por aí alguém com boa memória e queira contar a história do Externato João de Deus, ficaria grato.
Boas Ccor
ReplyDeleteAinda bem que alteraste as cores do blog, aquele contraste provocava uma foto-estimulação danada.
Boas Carrasqueiro,
ReplyDeletealterei exactamente por isso. Foi um leitor que me alertou para o facto.
Espero que esteja tudo bem. Estou a ver que no teu caso do xadrez, o aluno conseguiu superar o mestre.
1ab